Gestão de Ativo e Passivo (ALM) – Caso Brasilprev
Uma jornada de aprendizado sobre como uma das maiores empresas de previdência do Brasil enfrentou o desafio da alta do IGP-M em 2020
Fundamentos de ALM: O Equilíbrio entre Ativos e Passivos
Imagine uma seguradora como um barco navegando em águas às vezes turbulentas. Os passivos são as promessas que a empresa fez aos seus clientes — os pagamentos futuros garantidos. Os ativos são os recursos que a empresa investiu para honrar essas promessas. ALM (Asset Liability Management) é a arte de manter esse barco equilibrado, mesmo quando o mar se agita.
ALM em uma frase: Técnica de gestão financeira que busca sincronizar os fluxos de caixa dos ativos com as obrigações (passivos), minimizando riscos de descasamento.
Por que o ALM é tão importante para empresas de previdência?
Diferentemente de outros negócios, uma empresa de previdência faz promessas que podem durar décadas. Quando a Brasilprev vendeu planos com garantia de IGP-M + 6% ao ano nos anos 90, assumiu um compromisso que se estenderia por 30, 40 ou até 50 anos. Como garantir que, décadas depois, a empresa teria recursos suficientes para honrar essas promessas?
É aí que entra o ALM. Sem uma gestão adequada do equilíbrio entre ativos e passivos, até a empresa mais sólida pode enfrentar dificuldades quando os ventos mudam de direção — como aconteceu em 2020, quando o IGP-M disparou 23,14%, pegando o mercado de surpresa.
Os Três Conceitos Fundamentais do ALM
1. Duration
A duration é uma medida do tempo médio ponderado até o recebimento dos fluxos de caixa. Simplificando: é quanto tempo, em média, você precisará esperar para receber seu dinheiro.
Por que importa? Porque quanto maior a duration, maior a sensibilidade a mudanças nas taxas de juros e inflação.
Exemplo prático: Um título com duration de 5 anos terá seu valor alterado em aproximadamente 5% para cada 1% de variação na taxa de juros.
2. Convexidade
A convexidade captura o comportamento não-linear dos preços dos ativos e passivos quando ocorrem grandes variações nas taxas.
Por que importa? Porque em movimentos extremos de mercado (como o do IGP-M em 2020), a duration sozinha subestima o impacto real.
Atenção: Passivos de longo prazo têm alta convexidade, o que significa que a regra simples da duration subestima significativamente o impacto de grandes variações.
3. Descasamento (Gap)
O descasamento ocorre quando há diferenças entre ativos e passivos em termos de:
- Duration gap: Diferença entre a duration dos ativos e a duration dos passivos
- Indexador gap: Diferença entre os indexadores dos ativos e dos passivos
- Volume gap: Diferença entre o valor dos ativos e o valor dos passivos
Por que importa? Porque é justamente nos descasamentos que residem os maiores riscos para uma seguradora ou entidade de previdência.
Simulador de Duration Gap
Mova os controles abaixo para ver como diferentes configurações de ativos e passivos afetam o risco de ALM:
Resultados da Simulação:
Duration Gap: -5 anos
Impacto nos Ativos: -5.00%
Impacto nos Passivos: -10.00%
Impacto Líquido: +5.00%
Alerta de Risco: Seu duration gap de -5 anos representa um risco significativo para aumento de taxas de juros!
Quiz Rápido: Fundamentos de ALM
1. O que acontece com o valor de um passivo quando sua taxa de desconto aumenta?
- O valor do passivo aumenta
- O valor do passivo diminui
- O valor do passivo permanece inalterado
- Não é possível determinar sem informações adicionais
2. Uma seguradora com passivos indexados ao IGP-M de duration 10 anos e ativos indexados ao IGP-M de duration 3 anos está mais vulnerável a:
- Queda do IGP-M
- Estabilidade do IGP-M
- Aumento do IGP-M
- Nenhuma das alternativas
3. Qual a melhor definição de ALM para uma empresa de previdência?
- Técnica para maximizar o retorno dos investimentos
- Ferramenta contábil para reportar ativos e passivos
- Estratégia para reduzir impostos sobre os investimentos
- Gestão integrada de ativos e passivos para minimizar riscos de descasamento
Simulador do Caso Brasilprev: Experimentando a Crise de 2020
Em 2020, a Brasilprev enfrentou uma tempestade perfeita. O IGP-M, indexador que ajustava parte significativa de seus passivos, disparou 23,14% — o maior valor em 18 anos. Para uma empresa com R$ 10 bilhões em passivos indexados a este indicador, o impacto foi devastador.
O que teria acontecido se a alta fosse menor? E se a empresa tivesse conseguido fazer mais hedge? E se o patrimônio líquido inicial fosse diferente? Com nosso simulador, você pode explorar esses cenários alternativos e entender melhor as dinâmicas envolvidas.
O desafio em números: Um aumento de 23,14% no IGP-M elevou o passivo em R$ 2,314 bilhões, consumiu grande parte do Patrimônio Líquido e aumentou o Capital Mínimo Requerido, gerando necessidade de aporte superior a R$ 1 bilhão.
Contexto: O Plano Tradicional da Brasilprev
Antes de explorar o simulador, é importante entender o produto que gerou essa exposição. O "Plano Tradicional" era um produto de previdência com as seguintes características:
- Lançamento: Anos 90, período de elevada inflação no Brasil
- Garantia: IGP-M + 6% ao ano (extremamente atrativo na época)
- Tábua de Sobrevivência: AT-49 (mais antiga, com expectativa de vida menor)
- Término das vendas: 2002 (mas os contratos continuam vigentes por décadas)
Em 2020, embora esse plano não fosse mais comercializado há 18 anos, ainda representava um passivo significativo no balanço da companhia. E diferentemente de outros indicadores mais estáveis como o IPCA, o IGP-M é conhecido por sua volatilidade, especialmente em períodos de desvalorização cambial.
Simulador do Impacto do IGP-M
Ajuste os parâmetros abaixo para simular diferentes cenários e entender como cada variável afeta o resultado final:
Resultados da Simulação:
Sem Hedge
Aumento do passivo: R$ 2,31 bilhões
Aumento do CMR: R$ 1,16 bilhões
Novo Patrimônio Líquido: R$ 0,69 bilhão
Novo CMR: R$ 2,96 bilhões
Aporte necessário: R$ 2,27 bilhões
Com Hedge
Aumento do passivo (com hedge): R$ 1,64 bilhões
Aumento do CMR (com hedge): R$ 0,82 bilhão
Novo Patrimônio Líquido (com hedge): R$ 1,36 bilhões
Novo CMR (com hedge): R$ 2,62 bilhões
Aporte necessário (com hedge): R$ 1,26 bilhão
Custo anual do hedge: R$ 87 milhões
Economia líquida: R$ 919 milhões
Conclusão da Simulação: Mesmo com um hedge de apenas 29% (o máximo disponível no mercado), a economia gerada seria significativa, reduzindo o aporte necessário em quase R$ 1 bilhão, com um custo anual de R$ 87 milhões.
O Dilema do Hedge Parcial
Por que a Brasilprev não conseguiu proteger 100% de sua exposição ao IGP-M? A resposta está na limitada disponibilidade de instrumentos de hedge no mercado brasileiro:
Limitações de Mercado
- Títulos NTN-C (IGP-M+): Emissão descontinuada pelo Tesouro Nacional desde 2006
- Swaps de IGP-M: Liquidez limitada e prazos geralmente curtos (até 3 anos)
- Debêntures IGP-M+: Volume irrisório frente à necessidade
Em contraste, para proteção contra IPCA, o mercado oferece as NTN-Bs com boa liquidez e prazos de até 40 anos.
O Trade-off Econômico
Mesmo os instrumentos disponíveis apresentavam:
- Custo elevado: Prêmio de aproximadamente 3% a.a. sobre o valor protegido
- Prazos curtos: Necessidade de renovações frequentes
- Risco de contraparte: Dependência de poucas instituições ofertantes
Isso criava um dilema: o custo contínuo do hedge vs. o risco de um evento extremo (que acabou acontecendo).
O lado oculto do risco: Ao decidir não proteger ou proteger parcialmente uma exposição, a empresa está essencialmente apostando que o evento extremo não acontecerá. Quando o IGP-M subiu 23,14% em 2020, essa aposta se revelou extremamente custosa.
Quiz Rápido: Simulador do Caso Brasilprev
1. Qual foi o principal fator que limitou a capacidade da Brasilprev de fazer hedge da exposição ao IGP-M?
- Falta de conhecimento técnico da equipe
- Proibição regulatória da SUSEP
- Disponibilidade limitada de instrumentos no mercado
- Custo extremamente elevado, acima de 20% a.a.
2. De acordo com o caso, qual o percentual aproximado do aumento do passivo que impactava o Capital Mínimo Requerido (CMR)?
- 25%
- 50%
- 75%
- 100%
3. Por que o plano "Tradicional" da Brasilprev, mesmo não sendo mais comercializado desde 2002, ainda representava um risco significativo em 2020?
- Porque a SUSEP exigia capital extra para planos antigos
- Porque o plano tinha garantia de rentabilidade acima da taxa SELIC
- Porque a tábua AT-49 era muito conservadora para o risco de longevidade
- Porque os contratos tinham garantia de IGP-M + 6% a.a. e longo prazo de duração
Linha do Tempo Interativa: A Jornada da Brasilprev até 2020
Grandes crises raramente surgem do nada. Elas normalmente são o resultado de uma série de decisões, eventos e circunstâncias que, ao longo do tempo, criam vulnerabilidades. A história do caso Brasilprev começou décadas antes da crise de 2020, com o lançamento dos planos tradicionais nos anos 90.
Nossa linha do tempo interativa permite que você navegue pelos momentos-chave dessa história e entenda como o cenário para a crise de 2020 foi sendo construído ao longo dos anos. Clique nos eventos para saber mais.
Anos 90
Lançamento dos Planos Tradicionais
2002
Encerramento da comercialização
2006
Tesouro interrompe emissão de NTN-Cs
2015
Nova regulamentação de capital (CNSP 321)
2019
IGP-M fecha o ano com alta de 7,3%
Janeiro a Abril 2020
Início da pandemia e desvalorização cambial
Maio a Agosto 2020
IGP-M acumula alta superior a 15%
Setembro a Dezembro 2020
Aporte de capital de R$ 1,2 bilhão
O Contexto Macroeconômico de 2020
Para entender completamente o caso Brasilprev, é crucial compreender o contexto macroeconômico extraordinário de 2020:
Fatores que impulsionaram o IGP-M
- Pandemia de COVID-19: Choque de oferta global e medidas de estímulo
- Desvalorização do Real: Alta de mais de 30% frente ao dólar
- Preços de commodities: Aumento expressivo em dólares
- Composição do IGP-M: Maior peso para preços no atacado (IPA), fortemente influenciados pelo câmbio
Impacto diferenciado nos indicadores
Enquanto o IPCA (inflação oficial) fechou 2020 em 4,52%, o IGP-M acumulou impressionantes 23,14% - uma diferença de 18,62 pontos percentuais!
Essa divergência incomum entre os indicadores amplificou o problema para a Brasilprev, já que seus passivos estavam atrelados ao IGP-M, mas muitos de seus ativos estavam referenciados ao IPCA ou à taxa Selic.
Quiz Rápido: Linha do Tempo
1. Qual evento da linha do tempo aumentou significativamente a dificuldade de fazer hedge para passivos atrelados ao IGP-M?
- A criação da SUSEP em 1966
- O encerramento da comercialização dos planos tradicionais em 2002
- A interrupção da emissão de NTN-Cs pelo Tesouro em 2006
- A implementação da regulação CNSP 321 em 2015
2. Qual o principal fator macroeconômico que contribuiu para a disparada do IGP-M em 2020?
- Aumento da taxa Selic pelo Banco Central
- Forte desvalorização do Real frente ao dólar
- Aumento dos impostos federais
- Política de controle de preços do governo
3. Por que o IGP-M e o IPCA tiveram variações tão diferentes em 2020?
- Porque o IPCA só mede preços em São Paulo, enquanto o IGP-M é nacional
- Porque o governo manipula o IPCA para mantê-lo baixo
- Porque o IPCA só considera preços de alimentos e o IGP-M inclui outros itens
- Porque o IGP-M tem maior peso para preços no atacado, mais sensíveis ao câmbio
Glossário Dinâmico: Dominando a Linguagem de ALM e Gestão de Riscos
Para extrair o máximo de valor do caso Brasilprev, é fundamental dominar os termos técnicos utilizados no mundo de ALM, gestão de riscos e regulação de seguradoras. Nosso glossário dinâmico traz explicações claras e didáticas dos principais conceitos.
Dica de estudo: Familiarize-se com estes termos, sem se perder na terminologia técnica.
▶ ALM e Conceitos Financeiros
- Duration
- Convexidade
- Gap (Descasamento)
- Hedge
- IGP-M
- IPCA
▶ Regulação e Capital
- Capital Mínimo Requerido (CMR)
- Capital de Risco (CR)
- Capital de Risco de Mercado (CRmerc)
- Capital de Risco de Subscrição (CRsubs)
- SUSEP
- CNSP
▶ Produtos e Instrumentos
- Plano Tradicional
- NTN-B (Tesouro IPCA+)
- NTN-C (Tesouro IGP-M+)
- Swap de Inflação
- Debênture
- Tábua AT-49
▶ Estratégias e Técnicas
- Imunização
- Risco de Taxa de Juros
- Risco de Inflação
- Resseguro
- Teste de Estresse
- Aporte de Capital
Termo
Definição
Termos Relacionados
Mapa Conceitual: Conectando os Conceitos
Um dos maiores desafios no estudo de ALM e gestão de riscos é entender como os diferentes conceitos se relacionam. Nosso mapa conceitual interativo ajuda a visualizar essas conexões:
Mini-Quiz: Teste seus Conhecimentos
1. O que é o Capital Mínimo Requerido (CMR)?
- O valor mínimo que uma seguradora deve ter em caixa para operações diárias
- O capital regulatório exigido pela SUSEP para garantir a solvência da seguradora
- O montante necessário para abrir uma nova seguradora no Brasil
- O valor de capital social definido pelos acionistas
2. Por que o IGP-M é considerado mais volátil que o IPCA?
- Porque o IGP-M é calculado mensalmente e o IPCA trimestralmente
- Porque o IGP-M considera apenas preços de São Paulo, enquanto o IPCA é nacional
- Porque o IGP-M tem maior peso para preços atacadistas, mais sensíveis ao câmbio
- Porque o governo manipula o IPCA para mantê-lo artificialmente estável
3. O que significa "imunização" no contexto de ALM?
- Proteger a empresa contra processos judiciais de clientes
- Garantir que os funcionários não fiquem doentes
- Criar barreiras regulatórias contra concorrentes estrangeiros
- Estruturar ativos e passivos para reduzir a sensibilidade a variações de taxas
Auto-Avaliação: Preparação para explorar o caso
Agora que você explorou todos os aspectos do caso Brasilprev, chegou a hora de verificar sua preparação. Nossa auto-avaliação ajudará a identificar pontos fortes e áreas que merecem um último reforço.
Objetivo: Garantir que você aproveite ao máximo a oportunidade de aprendizado com o caso, focando nas áreas mais relevantes do caso e evitando perguntas básicas ou tangenciais.
Checklist de Conhecimento
Marque os conceitos que você já domina. Seja honesto consigo mesmo — o objetivo é identificar áreas para um último esforço de estudo, não "passar no teste".
Conceitos Fundamentais
Aspectos Regulatórios
Caso Específico
Preparação para Caso
Seu progresso geral:
Você marcou 0 de 20 itens (0% concluído)
Muito bem! Você parece estar bem preparado. Lembre-se que o objetivo não é apenas mostrar conhecimento, mas principalmente absorver as experiências e insights que só um caso na prática pode oferecer.
Quiz Final: Preparação Completa
Para finalizar sua preparação, tente responder às seguintes perguntas que integram diversos aspectos do caso:
1. Se a Brasilprev tivesse implementado uma estratégia de hedge para 100% do passivo em IGP-M (assumindo que isso fosse possível), qual seria o principal benefício?
- Eliminação completa da necessidade de aporte de capital
- Redução nos requerimentos regulatórios da SUSEP
- Neutralização do impacto da variação do IGP-M no resultado
- Aumento na rentabilidade média dos ativos
2. De acordo com o caso, por que a NTN-C (Tesouro IGP-M+), que seria o instrumento "perfeito" para hedge, tinha disponibilidade limitada?
- Porque a SUSEP limitava a aquisição por seguradoras
- Porque os bancos compravam toda a oferta disponível
- Porque eram títulos exclusivos para investidores estrangeiros
- Porque o Tesouro Nacional descontinuou sua emissão desde 2006
3. Qual alternativa descreve corretamente o impacto de um aumento do IGP-M em uma seguradora com passivos indexados a esse indicador e duration dos passivos maior que a dos ativos?
- Reduz o valor dos passivos e melhora a suficiência de capital
- Aumenta o valor dos passivos mais que o dos ativos, deteriorando a suficiência de capital
- Não tem impacto, pois ativos e passivos são igualmente afetados
- Aumenta o valor dos ativos mais que o dos passivos, melhorando a suficiência de capital
4. Considerando as características do caso Brasilprev, qual das seguintes estratégias de longo prazo seria mais eficaz para mitigar o risco de descasamento de IGP-M?
- Oferecer incentivos para que os clientes migrem para planos indexados ao IPCA
- Aumentar a alocação em ações do portfólio de investimentos
- Reduzir o prazo médio dos contratos oferecidos aos clientes
- Aumentar as taxas de administração cobradas dos clientes
5. Qual afirmação melhor descreve a relação entre IGP-M e taxa de câmbio que contribuiu para a crise de 2020?
- O IGP-M caiu quando o real se desvalorizou frente ao dólar
- A SUSEP alterou a fórmula do IGP-M para incluir o impacto do câmbio
- O IGP-M tem forte componente de preços atacadistas que são sensíveis ao câmbio
- O Banco Central intervém diretamente no IGP-M quando o real se desvaloriza