Opções Reais: Valorizando a Flexibilidade Gerencial

Opções Reais: Valorizando a Flexibilidade Gerencial

Um guia para entender como a flexibilidade nas decisões agrega valor aos projetos

1. Introdução às Opções Reais

O que são Opções Reais?

Opções Reais são direitos (mas não obrigações) de tomar decisões estratégicas relacionadas a ativos reais (não financeiros) em resposta a informações e condições futuras que se revelam com o tempo.

São Paulo, 2023. Sala de reuniões da TechBrasil, uma empresa de médio porte do setor de tecnologia...

Marina, a CFO, olha para os gráficos na tela com frustração. "Pelo método tradicional do VPL, este projeto de expansão para o Nordeste não seria aprovado. Mas perderíamos uma grande oportunidade estratégica..."

Carlos, analista financeiro recém-contratado e com formação em finanças modernas, levanta a mão timidamente. "Diretora, se me permite, talvez devêssemos avaliar esse projeto usando a teoria das Opções Reais."

Marina ergue as sobrancelhas, intrigada. "Opções Reais? Continue..."

"O projeto do Nordeste pode ter um VPL negativo hoje, mas nos dará a opção de expandir rapidamente caso o mercado responda bem. Essa flexibilidade tem valor que o VPL tradicional não captura."

É esta história, repetida em incontáveis salas de reuniões pelo mundo, que ilustra o poder transformador das Opções Reais na tomada de decisões estratégicas.

Análise Tradicional VPL = R$ 0 Rejeitar Projeto? Análise com Opções Reais VPL + Valor das Opções Aceitar Projeto! Flexibilidade + Valor
Figura 1: Como as Opções Reais agregam valor à análise tradicional de projetos

📚 Checkpoint de Leitura #1

Verifique seu entendimento sobre Opções Reais marcando as afirmações corretas:





2. Limitações do VPL Tradicional

De volta à sala de reuniões da TechBrasil...

"Mas espere, Carlos," interrompe Eduardo, um dos gerentes mais antigos, "o VPL é a metodologia mais confiável para avaliar projetos. Como podemos ignorá-lo?"

Carlos sorri, antecipando a pergunta. "Não estamos ignorando o VPL, Eduardo. Estamos complementando-o. O VPL tradicional tem limitações importantes quando há incerteza e flexibilidade no projeto."

"Exatamente que limitações?" pergunta Marina, agora genuinamente interessada.

Carlos caminha até o quadro branco e começa a listar:

Principais Limitações do VPL:

  1. Compromisso estático: Assume que todas as decisões são tomadas no início do projeto, ignorando adaptações futuras.
  2. Cenário único: Considera geralmente apenas um cenário médio ou esperado, não captando o valor das oportunidades em cenários extremos.
  3. Subavaliação da incerteza: Trata a incerteza apenas como risco (algo a ser evitado), não como potencial fonte de valor.
  4. Ignora o aprendizado: Não considera o valor das informações obtidas ao longo do projeto.

"Pensem nisso," continua Carlos, "o projeto do Nordeste nos dá a possibilidade de expandir se o mercado responder bem, ou de reduzir a operação se os resultados forem abaixo do esperado. Essa flexibilidade tem um valor real que o VPL tradicional simplesmente não captura."

Exemplo: Projeto de Exploração de Petróleo

Uma empresa petrolífera está avaliando um campo exploratório:

  • Investimento inicial (perfuração exploratória): R$ 50 milhões
  • VPL estimado do campo (considerando probabilidades de sucesso): R$ 40 milhões
  • Decisão pelo VPL tradicional: Rejeitar o projeto (VPL = -R$ 10 milhões)

Porém, o VPL tradicional ignora que:

  • Se a exploração for bem-sucedida, a empresa pode expandir a produção
  • Se os resultados forem ruins, a empresa pode abandonar o projeto e minimizar perdas
  • As informações obtidas têm valor para outros campos similares na região

📚 Checkpoint de Leitura #2

Verifique seu entendimento sobre as limitações do VPL marcando as afirmações corretas:





3. Opções Reais vs. Opções Financeiras

A discussão na TechBrasil continua...

"Carlos, você mencionou que a teoria das Opções Reais vem do mundo financeiro. Pode explicar melhor essa conexão?" pergunta Juliana, a diretora de operações.

"Claro! A teoria das Opções Reais é uma extensão da teoria das opções financeiras aplicada a ativos reais," explica Carlos. "Uma opção financeira dá ao detentor o direito, mas não a obrigação, de comprar ou vender um ativo financeiro por um preço predeterminado. Uma opção real é conceitualmente semelhante – é o direito, mas não a obrigação, de tomar uma decisão sobre um ativo real."

"E como isso funciona na prática?" pergunta Eduardo, ainda cético.

"Vamos ver uma comparação lado a lado," propõe Carlos, projetando uma tabela na tela:

Características Opções Financeiras Opções Reais
Natureza Contratos negociados em mercados financeiros Decisões gerenciais sobre ativos reais
Ativo Subjacente Ações, commodities, moedas, etc. Projetos, fábricas, propriedades, patentes, etc.
Preço de Exercício Valor fixo no contrato Custo de implementar a decisão (ex: expandir)
Prazo de Exercício Data específica ou período definido Frequentemente não especificado formalmente
Negociabilidade Negociadas em bolsas ou balcão Não negociáveis; específicas da empresa
Exclusividade Não exclusivas (qualquer um pode comprar) Geralmente exclusivas da empresa
Exercício Não afeta o valor do ativo subjacente Pode alterar fundamentalmente o valor do ativo

"E o mais fascinante," acrescenta Carlos, "é que tanto nas opções financeiras quanto nas reais, o valor da opção aumenta com maior volatilidade. Isso vai contra a intuição convencional de que a incerteza é sempre ruim!"

Por que a analogia funciona?

Tanto nas opções financeiras quanto nas reais, o valor da opção aumenta com:

  • Maior volatilidade/incerteza do ativo subjacente
  • Mais tempo disponível para exercício
  • Menor custo de exercício
  • Maiores taxas de juros (em geral)

📚 Checkpoint de Leitura #3

Verifique seu entendimento sobre a comparação entre opções reais e financeiras:





4. Tipos de Opções Reais

Após uma pausa para café, Marina retoma a discussão...

"Carlos, você comentou que o projeto do Nordeste nos dá a opção de expandir ou reduzir a operação. Existem outros tipos de flexibilidades que deveríamos considerar?"

Carlos acena entusiasmado. "Absolutamente! As opções reais vêm em vários tipos, cada uma representando diferentes flexibilidades gerenciais. Vou mostrar as principais."

Tipos de Opções Reais Opção de Expansão Aumentar o escopo ou escala Opção de Abandono Encerrar o projeto Opção de Adiamento Esperar por condições favoráveis Opção de Mudança Alterar insumos ou produtos
Figura 2: Principais tipos de Opções Reais

"Para o projeto do Nordeste," continua Carlos, "vamos focar principalmente nas opções de expansão e abandono, pois são as mais relevantes no nosso contexto atual."

Juliana interrompe: "Na minha área de operações, vejo muito valor na opção de mudança. Por exemplo, nossa capacidade de mudar de fornecedores ou adaptar linhas de produção para diferentes produtos."

"Excelente observação!" responde Carlos. "As opções reais estão presentes em todas as áreas da empresa, não apenas em novos projetos."

📚 Checkpoint de Leitura #4

Identifique o tipo de opção real em cada situação abaixo:

1. Uma montadora constrói uma fábrica que pode produzir tanto carros quanto caminhões, dependendo da demanda



2. Uma mineradora adquire direitos de exploração de uma área, mas decide esperar até que o preço do minério suba



3. Uma empresa de software desenvolve a primeira fase de um aplicativo e, se bem-sucedida, investirá mais recursos para ampliar as funcionalidades



4. Uma empresa farmacêutica pode encerrar um projeto de desenvolvimento de medicamento caso os testes clínicos não sejam promissores



5. A Opção de Expansão

O interesse do grupo aumenta à medida que Carlos começa a detalhar as opções específicas...

"Vamos começar pela opção de expansão, que é particularmente relevante para o projeto do Nordeste," propõe Carlos. "Imaginem que a primeira fase do projeto seja bem-sucedida e o mercado responda melhor que o esperado. Nesse caso, a empresa teria a opção – mas não a obrigação – de aumentar o investimento para expandir a operação."

O que é a Opção de Expansão?

A opção de expansão representa o direito (mas não a obrigação) de aumentar a escala ou escopo de um projeto investindo recursos adicionais quando as condições de mercado se mostram favoráveis.

"Pense na opção de expansão como uma opção de compra no mundo financeiro," continua Carlos. "Estamos 'comprando' o direito de adquirir mais do projeto no futuro, pagando apenas quando (e se) as condições forem favoráveis."

Eduardo, ainda cético, pergunta: "E como calculamos o valor dessa opção?"

"Excelente pergunta!" responde Carlos. "Há várias metodologias, mas uma forma simplificada seria:"

Valor da Opção de Expansão (modelo simplificado):

Valor da Opção de Expansão = max[0, (e × V) - Ie]

Onde:

  • e = fator de expansão (ex: 1,5 para expansão de 50%)
  • V = valor atual do projeto
  • Ie = investimento necessário para a expansão

"O 'max[0, ...]' na fórmula reflete o fato de que a empresa só exercerá a opção se o valor da expansão for maior que o custo," explica Carlos. "Se for menor, a empresa simplesmente não expande – e esse é o valor da flexibilidade!"

Caso GE Aviation: Projeto GEnx

Em 2004, a GE Aviation enfrentava uma decisão crucial sobre investir mais de $1 bilhão no desenvolvimento do motor GEnx para o Boeing 787 Dreamliner. O VPL tradicional do projeto era próximo de zero, tornando a decisão difícil.

Parâmetros do Projeto:

  • Investimento inicial: $1 bilhão
  • Valor presente dos fluxos de caixa esperados: $1 bilhão (VPL ≈ 0)
  • Possibilidade de expandir a tecnologia para outros modelos de aeronaves

A Opção de Expansão:

A GE identificou uma valiosa opção de expansão: a tecnologia desenvolvida para o GEnx poderia ser adaptada para outros modelos de aeronaves, como o Boeing 747-8, com um investimento adicional de $500 milhões, aumentando o valor do projeto em até 80% em cenários favoráveis.

Resultado:

Considerando a opção de expansão, o valor do projeto passou de $1 bilhão para $1,38 bilhão, justificando o investimento. E de fato, anos depois, a GE expandiu a tecnologia GEnx para o Boeing 747-8, criando economias de escala e ampliando o mercado.

"O caso da GE ilustra perfeitamente como um projeto com VPL próximo de zero pode se tornar atraente quando consideramos as opções reais embutidas," conclui Carlos.

📚 Checkpoint de Leitura #5

Verifique seu entendimento sobre a opção de expansão:





6. A Opção de Abandono

Na reunião da TechBrasil, Eduardo levanta um novo ponto...

"Carlos, você falou sobre a opção de expandir se tudo der certo. Mas e se der errado? Ficaremos presos a um projeto fracassado no Nordeste?"

"Excelente pergunta, Eduardo! É aí que entra a opção de abandono," responde Carlos. "Assim como podemos expandir em cenários favoráveis, também podemos encerrar o projeto se as condições forem adversas, limitando nossas perdas."

O que é a Opção de Abandono?

A opção de abandono representa o direito (mas não a obrigação) de encerrar um projeto e recuperar parte do investimento quando as condições de mercado se mostram desfavoráveis além de um determinado limite.

"No mundo das opções financeiras, a opção de abandono é análoga a uma opção de venda (put). Estamos 'vendendo' o projeto por um valor de salvamento se seu valor continuar operando cair abaixo desse nível," explica Carlos.

"E como calculamos o valor dessa opção de abandono?" pergunta Marina.

Valor da Opção de Abandono (modelo simplificado):

Valor da Opção de Abandono = max[0, S - V]

Onde:

  • S = valor de salvamento (valor recuperável ao abandonar)
  • V = valor atual continuado do projeto

"Novamente, o 'max[0, ...]' na fórmula reflete o fato de que a empresa só exercerá a opção se o valor de salvamento for maior que o valor de continuar. Caso contrário, seguimos com o projeto," complementa Carlos.

Caso Vale: Flexibilidade em Projeto de Mineração

Considere um projeto hipotético da Vale para desenvolver uma mina de minério de ferro, com características baseadas em decisões reais da empresa:

Parâmetros do Projeto:

  • Investimento inicial: R$ 2 bilhões
  • Valor presente esperado: R$ 2,1 bilhões (VPL = R$ 100 milhões)
  • Valor potencial de revenda dos equipamentos: R$ 800 milhões
  • Alta volatilidade no preço do minério de ferro

A Opção de Abandono:

Se os preços do minério caírem significativamente, a Vale tem a opção de encerrar as operações e vender equipamentos, recuperando R$ 800 milhões. Esta flexibilidade reduz o risco do projeto e adiciona valor.

Cenário de Abandono:

Em um cenário onde o valor continuado do projeto cai para R$ 600 milhões devido à queda nos preços do minério, seria ótimo exercer a opção de abandono, pois o valor de salvamento (R$ 800 milhões) excede o valor continuado (R$ 600 milhões).

"O caso da Vale mostra como a opção de abandono funciona como um seguro, limitando as perdas em cenários adversos," conclui Carlos. "Isso torna o projeto menos arriscado e, portanto, mais valioso quando avaliado corretamente."

📚 Checkpoint de Leitura #6

Verifique seu entendimento sobre a opção de abandono:





7. Modelo Binomial para Valoração de Opções Reais

Na reunião na TechBrasil, Marina está convencida do conceito, mas ainda tem dúvidas...

"Carlos, você nos convenceu sobre a importância das opções reais. Mas como, na prática, calculamos o valor dessas opções para o projeto do Nordeste?"

"Essa é a parte mais interessante!" responde Carlos animadamente. "Existem várias metodologias, mas vou mostrar a mais intuitiva: o modelo binomial."

"O modelo binomial simplifica a incerteza assumindo que o valor do projeto pode se mover para cima ou para baixo a cada período, criando uma 'árvore' de possíveis valores futuros:"

Pressupostos do Modelo Binomial de Um Passo:

  • O valor do projeto pode se mover para cima (com probabilidade p) ou para baixo (com probabilidade 1-p)
  • Os movimentos para cima e para baixo são determinados pela volatilidade do projeto
  • Decisões são tomadas após observar o movimento do valor
V₀ = 100 V₁ᵘ = 150 Expandir? V₁ᵈ = 70 Abandonar? p = 0.6 1-p = 0.4 Estado favorável Estado desfavorável
Figura 3: Árvore de decisão para um modelo binomial de um passo

"Esta árvore nos mostra que o valor inicial do projeto (100) pode se mover para cima (150) ou para baixo (70) no próximo período. Dependendo de qual estado ocorrer, podemos decidir expandir (no estado favorável) ou abandonar (no estado desfavorável)," explica Carlos.

Parâmetros do Modelo Binomial:

Fatores de movimento (com base na volatilidade σ):

  • Fator de movimento ascendente (u): eσ ≈ 1 + σ
  • Fator de movimento descendente (d): 1/u = e ≈ 1 - σ

Probabilidade neutra ao risco (p):

p = (er×dt - d)/(u - d)

Onde r é a taxa livre de risco e dt é o intervalo de tempo.

Valoração de uma Opção de Expansão com o Modelo Binomial

Exemplo: Modelo Binomial Aplicado ao Caso GEnx

Vamos aplicar o modelo binomial de um passo ao caso da GE Aviation:

  • Valor inicial do projeto (V₀): $1 bilhão
  • Volatilidade anual (σ): 40% (típica para projetos de alta tecnologia)
  • Taxa livre de risco (r): 4% a.a.
  • Horizonte: 1 ano para decisão de expansão

Passo 1: Calcular os parâmetros do modelo

  • Fator ascendente (u): e0,4 = 1,49
  • Fator descendente (d): 1/1,49 = 0,67
  • Probabilidade neutra ao risco (p): (e0,04 - 0,67)/(1,49 - 0,67) = 0,45

Passo 2: Calcular valores futuros do projeto

  • Estado favorável (V₁ᵘ): $1 bilhão × 1,49 = $1,49 bilhão
  • Estado desfavorável (V₁ᵈ): $1 bilhão × 0,67 = $670 milhões

Passo 3: Analisar a opção de expansão

A opção custaria $500 milhões adicionais, mas aumentaria o valor do projeto em 80%.

  • No estado favorável: max($1,49 bilhão, $1,49 bilhão × 1,8 - $500 milhões) = max($1,49 bilhão, $2,18 bilhão) = $2,18 bilhão
  • No estado desfavorável: max($670 milhões, $670 milhões × 1,8 - $500 milhões) = max($670 milhões, $706 milhões) = $706 milhões

Passo 4: Calcular o valor presente da opção

VP = [0,45 × $2,18 bilhão + 0,55 × $706 milhões] / 1,04 = $1,38 bilhão

Passo 5: Determinar o valor da opção de expansão

Valor da opção = $1,38 bilhão - $1 bilhão = $380 milhões

Conclusão: A opção de expansão adiciona $380 milhões ao valor do projeto, justificando o investimento!

Valoração de uma Opção de Abandono com o Modelo Binomial

Exemplo: Modelo Binomial Aplicado ao Projeto de Mineração

Vamos aplicar o modelo binomial ao caso da Vale:

  • Valor inicial do projeto (V₀): R$ 2,1 bilhões
  • Volatilidade anual (σ): 35% (típica para projetos de mineração)
  • Taxa livre de risco (r): 5% a.a.
  • Valor de salvamento (S): R$ 800 milhões

Passo 1: Calcular os parâmetros do modelo

  • Fator ascendente (u): e0,35 = 1,42
  • Fator descendente (d): 1/1,42 = 0,70
  • Probabilidade neutra ao risco (p): (e0,05 - 0,70)/(1,42 - 0,70) = 0,49

Passo 2: Calcular valores futuros do projeto

  • Estado favorável (V₁ᵘ): R$ 2,1 bilhões × 1,42 = R$ 2,98 bilhões
  • Estado desfavorável (V₁ᵈ): R$ 2,1 bilhões × 0,70 = R$ 1,47 bilhão

Passo 3: Analisar a opção de abandono

  • No estado favorável: max(R$ 2,98 bilhões, R$ 800 milhões) = R$ 2,98 bilhões (continuar)
  • No estado desfavorável: max(R$ 1,47 bilhão, R$ 800 milhões) = R$ 1,47 bilhão (continuar)

Passo 4: Calcular o valor presente com a opção

VP = [0,49 × R$ 2,98 bilhões + 0,51 × R$ 1,47 bilhão] / 1,05 = R$ 2,18 bilhões

Passo 5: Determinar o valor da opção de abandono

Valor da opção = R$ 2,18 bilhões - R$ 2,1 bilhões = R$ 80 milhões

Conclusão: A opção de abandono adiciona R$ 80 milhões ao valor do projeto!

Importante: Limitações do Modelo Binomial de Um Passo

O modelo de um passo é uma simplificação didática. Em aplicações reais:

  • Utilizam-se modelos multi-período (árvores mais complexas)
  • A estimativa de volatilidade é crucial e desafiadora
  • Podem existir múltiplas opções interagindo simultaneamente
  • As opções podem não ser perpétuas (têm prazos para exercício)

📚 Checkpoint de Leitura #7

Verifique seu entendimento sobre o modelo binomial:





8. Modelo de Black-Scholes para Opções Reais

A reunião na TechBrasil continua, com o grupo cada vez mais interessado...

"Carlos, o modelo binomial é muito intuitivo. Existe algum método mais avançado para valorar opções reais?" pergunta Juliana.

"Absolutamente!" responde Carlos. "O modelo de Black-Scholes, famoso no mundo das opções financeiras, também pode ser adaptado para opções reais, especialmente quando queremos uma solução fechada em vez de uma árvore."

O Modelo de Black-Scholes para Opções Reais

O modelo de Black-Scholes foi desenvolvido originalmente para opções financeiras, mas pode ser adaptado para opções reais com algumas considerações especiais.

Considerando uma opção de compra (análoga à opção de expansão):

C = S × N(d₁) - X × e-rT × N(d₂)

Onde:

  • C = valor da opção de compra (ex: expansão)
  • S = valor presente do ativo subjacente (projeto)
  • X = preço de exercício (custo da expansão)
  • r = taxa livre de risco
  • T = tempo até o vencimento da opção
  • N(d₁) e N(d₂) = probabilidades acumuladas na distribuição normal

"E para uma opção de venda, análoga à opção de abandono?" pergunta Eduardo.

Fórmula para Opção de Abandono

P = X × e-rT × N(-d₂) - S × N(-d₁)

Onde:

  • P = valor da opção de venda (ex: abandono)
  • X = preço de exercício (valor de salvamento)
  • S = valor presente do ativo subjacente (projeto)
  • r, T, N(d₁) e N(d₂) = mesmos parâmetros da fórmula da call

"E o que são esses valores d₁ e d₂?" pergunta Marina.

Cálculo de d₁ e d₂

d₁ = [ln(S/X) + (r + σ²/2) × T] / (σ × √T)

d₂ = d₁ - σ × √T

Onde:

  • σ = volatilidade do ativo subjacente (projeto)
  • ln = logaritmo natural

"O modelo de Black-Scholes parece mais complexo que o binomial," comenta Eduardo.

"É um pouco mais intimidador matematicamente," concorda Carlos, "mas tem a vantagem de fornecer uma solução fechada. E, curiosamente, quando aumentamos o número de passos no modelo binomial, ele converge para o resultado do Black-Scholes!"

Exemplo: Valorando uma Opção de Abandono com Black-Scholes

Uma empresa de telecomunicações está considerando investir em uma nova tecnologia de fibra ótica:

  • Valor presente do projeto (S): R$ 15 milhões
  • Volatilidade anual (σ): 40%
  • Valor de salvamento (X): R$ 11 milhões
  • Taxa livre de risco (r): 7% a.a.
  • Tempo até o vencimento da opção (T): 3 anos

Passo 1: Calcular d₁ e d₂

d₁ = [ln(15/11) + (0,07 + 0,40²/2) × 3] / (0,40 × √3) = 0,97

d₂ = 0,97 - 0,40 × √3 = 0,27

Passo 2: Calcular N(-d₁) e N(-d₂)

N(-d₁) = N(-0,97) = 0,166

N(-d₂) = N(-0,27) = 0,394

Passo 3: Aplicar a fórmula da opção de venda (put)

P = 11 × e-0,07×3 × 0,394 - 15 × 0,166

P = 11 × 0,81 × 0,394 - 15 × 0,166

P = 3,52 - 2,49 = R$ 1,03 milhão

Conclusão: A opção de abandono adiciona aproximadamente R$ 1 milhão ao valor do projeto!

📚 Checkpoint de Leitura #8

Complete as afirmações sobre o modelo de Black-Scholes para opções reais:

1. Na fórmula de Black-Scholes, o valor de uma opção de abandono é calculado usando a fórmula para opção de:



2. A volatilidade do projeto (σ) afeta o valor da opção de uma forma:



3. O valor de salvamento na opção de abandono corresponde ao:



Adaptações do Modelo de Black-Scholes para Opções Reais:

Ao aplicar o modelo de Black-Scholes a opções reais, é preciso considerar algumas adaptações importantes:

  1. Ativo não negociado: O projeto geralmente não é negociado em mercado, o que dificulta a estimativa de volatilidade
  2. Não exclusividade: Algumas opções reais podem não ser exclusivas da empresa (ex: entrada em um novo mercado)
  3. Pressupostos de distribuição: O modelo assume retornos lognormais, o que pode não ser verdade para projetos reais
  4. Complexidade das opções: Opções reais são frequentemente compostas (ex: opção de expandir após diferir)

9. Estudos de Caso: Opções Reais em Ação

Caso GE Aviation: O Poder da Opção de Expansão

Cincinnati, 2004. Sala de reuniões da sede da GE Aviation...

David Joyce, vice-presidente de desenvolvimento comercial de motores, enfrentava uma decisão crucial: investir mais de $1 bilhão no desenvolvimento do motor GEnx para o Boeing 787 Dreamliner.

O analista financeiro apresentou as projeções: "Os números tradicionais não parecem animadores. O VPL do projeto está praticamente no zero."

Um silêncio tomou conta da sala. O projeto GEnx representava o futuro da GE Aviation, mas os números convencionais não contavam a história completa. Foi quando Joyce levantou-se e perguntou:

"E se considerarmos as opções reais embutidas nesse projeto?"

A Análise de Opções Reais:

A equipe identificou uma valiosa opção de expansão: a tecnologia do GEnx poderia ser aplicada a outros modelos de aeronaves. Com um investimento adicional de $500 milhões, o valor do projeto poderia aumentar em 80% se o mercado respondesse bem.

Após a análise binomial, o valor da opção foi estimado em $380 milhões, elevando o valor total do projeto para $1,38 bilhão — bem acima do limiar de aceitação.

O Que Aconteceu Depois:

Em 2011, o GEnx entrou em serviço comercial no Boeing 787 Dreamliner. Como previsto, a GE expandiu a tecnologia para o Boeing 747-8, criando economia de escala. Até 2023, a GE havia entregue mais de 2.500 motores GEnx, gerando bilhões em receitas.

Joyce, que mais tarde se tornaria presidente da GE Aviation, refletia: "Se tivéssemos olhado apenas para o VPL, poderíamos ter perdido uma das maiores oportunidades na história da GE Aviation."

Caso Petrobras: Opções Reais no Pré-Sal

Rio de Janeiro, 2007. Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES)...

A descoberta das reservas de petróleo no pré-sal brasileiro apresentava um desafio sem precedentes. A exploração exigiria perfuração em águas ultraprofundas, a mais de 7.000 metros abaixo do nível do mar. Os custos seriam astronômicos e as incertezas, enormes.

A análise tradicional mostrava VPL baixo para alguns campos. Mas os engenheiros e analistas da Petrobras reconheceram o valor das opções reais embutidas no projeto.

As Opções Identificadas:

  • Opção de faseamento: Desenvolver campos gradualmente, expandindo conforme os preços do petróleo e a tecnologia evoluem
  • Opção de escala: Aumentar a produção em resposta a condições favoráveis de mercado
  • Opção de aprendizado: O conhecimento adquirido em um campo reduz incertezas e custos em outros

O Valor da Flexibilidade:

A Petrobras valorou a flexibilidade usando modelos binomiais que mostraram como, mesmo com VPL inicial negativo para alguns campos, o valor das opções tornava o investimento atraente.

A empresa decidiu avançar com o desenvolvimento do pré-sal, mas mantendo a flexibilidade para ajustar o ritmo de produção e investimentos conforme as condições de mercado — uma abordagem que se provou valiosa com as flutuações dos preços do petróleo.

Caso Farmacêutico: Novo Nordisk e o Ozempic

Dinamarca, 2012. Laboratórios de P&D da Novo Nordisk...

Quando a Novo Nordisk começou a desenvolver a molécula semaglutida (que viria a se tornar o Ozempic), o objetivo inicial era o tratamento do diabetes tipo 2. A análise tradicional de VPL considerava apenas esse mercado inicial.

Porém, os executivos visionários da empresa reconheceram as valiosas opções reais embutidas na molécula.

As Opções Reais Identificadas:

  • Opção de expansão de aplicação: Posteriormente, a Novo Nordisk "exerceu" a opção de expandir a aplicação para tratamento de obesidade (Wegovy)
  • Opção de formulação: Desenvolveu versão oral da medicação, expandindo o mercado para pacientes que preferem pílulas a injeções
  • Opção de extensão de patente: Desenvolveu formulações alternativas para estender a proteção intelectual

Resultado:

O valor total criado pela semaglutida excedeu significativamente as projeções iniciais para sua aplicação em diabetes. O Wegovy (aplicação para obesidade) tornou-se um dos medicamentos mais bem-sucedidos da história recente, transformando as perspectivas financeiras da Novo Nordisk.

Este caso demonstra como cada aplicação adicional multiplicou o valor do investimento inicial na molécula, algo que não seria capturado sem a perspectiva de opções reais.

📚 Checkpoint de Leitura #9

Relacione cada caso estudado com a principal opção real identificada:

1. Caso GE Aviation (motor GEnx)



2. Caso Petrobras (pré-sal)



3. Caso Novo Nordisk (Ozempic/Wegovy)



10. Exercícios Práticos sobre Opções Reais

Esta seção contém exercícios práticos para reforçar os conceitos aprendidos sobre Opções Reais. Tente resolvê-los e depois verifique as respostas.

Exercício 1: Modelo Binomial para Opção de Expansão

Uma empresa de tecnologia está considerando o desenvolvimento de um novo produto. O valor do projeto é de R$ 8 milhões e a volatilidade esperada é de 36% ao ano. A taxa livre de risco contínua é de 6% ao ano. Se a empresa tiver a opção de expandir o projeto em 50% após 2 anos, com um investimento necessário para a expansão estimado em R$ 4 milhões, qual é o valor aproximado dessa opção de expansão?






Exercício 2: Opção de Abandono por Black-Scholes

Uma empresa de varejo está avaliando a aquisição de uma concorrente. O valor presente dos benefícios esperados da aquisição é de R$ 30 milhões, com uma volatilidade estimada em 30% ao ano. A taxa livre de risco contínua é de 4% ao ano. Se a empresa tiver a opção de desistir da aquisição após 2 anos, com um valor de desistência estimado em R$ 20 milhões, qual é o valor aproximado dessa opção de desistência/abandono?






Exercício 3: Valor de uma Opção de Abandono

A Supra Sumo S.A. está decidindo se deve ou não implementar o uso de uma nova tecnologia para suas fábricas de sucos. Em um ano a empresa saberá se a nova tecnologia é aceita no mercado. O valor do projeto hoje é de \$ 9,1 milhões com volatilidade esperada de 50% ao ano. Considere a taxa livre de risco contínua é de 6% ao ano. Suponha que, em 1 ano, se a demanda pela nova tecnologia for baixa, a empresa possa vender a tecnologia por \$ 10,4 milhões. Qual é o valor estimado da opção de abandono do projeto?






Exercício 4: Tipos de Opções Reais

Quais são as premissas consideradas válidas no cálculo da opção de abandono de um projeto, segundo o modelo de Black and Scholes?






Exercício 5: Licitação com Opção de Abandono

Uma empresa de energia renovável está avaliando um projeto de construção de uma usina hidrelétrica de interesse do governo local que promove uma concorrência entre diversos fornecedores potenciais. O valor presente dos fluxos de caixa esperados do projeto é de $ 50 bilhões, com uma volatilidade estimada em 44% ao ano. A taxa livre de risco contínua é de 4,8% ao ano. Se o governo oferecer em leilão holandês (o maior preço ganha) às empresas participando da concorrência a opção de abandonar o projeto daqui a 5 anos vendendo-a para o governo por $ 20 bilhões, quanto a empresa deveria estar disposta a pagar por esta opção?






11. Quiz: Teste seus Conhecimentos

Questão 1:

Por que o método do VPL tradicional pode subavalar projetos com alta incerteza?

  • Porque o VPL sempre subestima as receitas futuras de qualquer projeto
  • Porque o VPL não captura o valor da flexibilidade gerencial para responder a novas informações
  • Porque o VPL é calculado incorretamente pela maioria das empresas
  • Porque o VPL não considera os custos de oportunidade

Questão 2:

O valor de uma opção real de expansão aumenta quando:

  • A taxa de juros diminui
  • O custo de expansão aumenta
  • A volatilidade do projeto aumenta
  • O prazo para exercício da opção diminui

Questão 3:

No modelo binomial, a probabilidade neutra ao risco é usada para:

  • Determinar a volatilidade do projeto
  • Calcular o valor presente esperado dos fluxos de caixa futuros
  • Estimar o custo de capital da empresa
  • Decidir se o projeto deve ser aceito ou rejeitado

Questão 4:

A opção de abandono é mais valiosa em qual das seguintes situações?

  • Projetos com baixa incerteza e alto valor continuado
  • Projetos com baixa incerteza e baixo valor de salvamento
  • Projetos com alta incerteza e baixo valor de salvamento
  • Projetos com alta incerteza e alto valor de salvamento

Questão 5:

No caso da GE Aviation com o motor GEnx, a opção real mais importante foi:

  • A opção de expansão para outros modelos de aeronaves
  • A opção de abandono do projeto
  • A opção de adiar o investimento
  • A opção de mudar a tecnologia de fabricação

Questão 6:

Na fórmula de Black-Scholes para opção de abandono, o valor de salvamento corresponde a:

  • S (valor presente do ativo subjacente)
  • X (preço de exercício)
  • σ (volatilidade do ativo)
  • r (taxa livre de risco)

Questão 7:

Qual afirmação é verdadeira sobre a volatilidade no contexto de opções reais?

  • Maior volatilidade sempre reduz o valor do projeto
  • Maior volatilidade aumenta o valor das opções reais
  • A volatilidade não tem efeito no valor das opções reais
  • Menor volatilidade aumenta o valor das opções reais

Questão 8:

No modelo binomial, os fatores de movimento ascendente (u) e descendente (d) são principalmente determinados por:

  • Volatilidade do projeto (σ)
  • Taxa livre de risco (r)
  • Tempo até o vencimento (T)
  • Valor atual do projeto (V₀)

Calculadora de Opções Reais

Experimente calcular o valor de uma opção real com este modelo binomial simplificado.

Resultados:

Conclusões e Dicas Práticas

De volta à sala de reuniões da TechBrasil, Carlos conclui sua apresentação...

"Para finalizar," diz Carlos, "vamos resumir os principais pontos sobre Opções Reais que discutimos hoje."

Pontos-Chave:

  • Opções Reais capturam o valor da flexibilidade gerencial em ambientes incertos
  • Projetos com VPL próximo de zero podem ser atrativos quando consideradas as opções embutidas
  • A volatilidade, tradicionalmente vista como negativa, pode criar valor quando existe flexibilidade
  • O modelo binomial oferece uma abordagem acessível para valorar opções reais
  • Casos reais como GE Aviation, Petrobras e Novo Nordisk demonstram o poder prático das opções reais

Marina, agora convencida, pergunta: "Carlos, que dicas práticas você daria para implementarmos esta abordagem no projeto do Nordeste e em futuros projetos?"

Dicas para Aplicação Prática:

  1. Comece identificando todas as flexibilidades possíveis em um projeto
  2. Utilize o modelo binomial simples para desenvolver intuição e entendimento
  3. Para projetos complexos, considere modelos mais sofisticados ou simulação de Monte Carlo
  4. Lembre-se que o valor está na flexibilidade, não apenas nas projeções iniciais
  5. Documente pressupostos e análise de sensibilidade para parâmetros críticos como volatilidade

"Muito obrigada, Carlos," diz Marina com um sorriso. "Sua apresentação mudou completamente nossa perspectiva sobre o projeto do Nordeste. Vamos reanalisar considerando as opções reais e tomar uma decisão mais informada."

"E lembrem-se," conclui Carlos, "em um mundo cada vez mais incerto e dinâmico, a capacidade de se adaptar tem imenso valor. É exatamente isso que as Opções Reais nos ajudam a quantificar."

Referências Bibliográficas

  • Copeland, T., & Antikarov, V. (2003). Real Options: A Practitioner's Guide. Texere.
  • Dixit, A. K., & Pindyck, R. S. (1994). Investment under Uncertainty. Princeton University Press.
  • Trigeorgis, L. (1996). Real Options: Managerial Flexibility and Strategy in Resource Allocation. MIT Press.
  • Mun, J. (2006). Real Options Analysis: Tools and Techniques. Wiley Finance.
  • Amram, M., & Kulatilaka, N. (1999). Real Options: Managing Strategic Investment in an Uncertain World. Harvard Business School Press.
  • Dias, M. A. G. (2015). Opções Reais Híbridas com Aplicações em Petróleo. Interciência.
  • Brandão, L. E., Dyer, J. S., & Hahn, W. J. (2005). Using binomial decision trees to solve real-option valuation problems. Decision Analysis, 2(2), 69-88.
  • Sick, G. (1995). Real options. Handbooks in operations research and management science, 9, 631-691.

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